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Indústria automotiva deve retomar cenário pré-pandemia no próximo ano

Mesmo com crescimento de 33% no primeiro semestre, a escassez de semicondutores impede a retomada total do setor. Presidente da Anfavea descarta fechamento de mais fábricas no Brasil


A crise de escassez de semicondutores no setor automotivo tem desacelerado a retomada econômica da produção de veículos automotores ao patamar pré-pandemia. Os números divulgados recentemente pela Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea) apontam que 1.148,5 mil autoveículos deixaram as linhas de montagem no primeiro semestre do ano, 57,5% a mais que os 729 mil do mesmo período do ano passado, quando todas as fábricas passaram por paradas de até dois meses.

A indústria automotiva foi uma das mais afetadas durante a crise sanitária em todo o mundo. No Brasil, a produção caiu 32% no ano passado, enquanto a retração global ficou em 16%, com a redução na cadeia produtiva de mais de 19 milhões de veículos. Os novos números, se comparados ao primeiro semestre de 2019, antes da chegada do coronavírus ao país, ainda demonstram retração na fabricação em mais de 300 mil unidades, ou 22%. De acordo com o presidente da Anfavea, Luiz Carlos Moraes, o setor automotivo fechou o primeiro semestre de 2021 com emplacamento de 74 mil veículos, um crescimento de 33% sobre 2020. A previsão para 2021, segundo ele, está um pouco “conservadora”, devido à escassez de semicondutores. Moraes afirma que um estudo do Boston Consulting Group (BCG) analisou o impacto do semicondutor na indústria global, e a estimativa é de que ocorra uma perda de produção de 3,6 milhões de veículos. “Desse montante, estima-se a não produção de 172 mil unidades na América do Sul, 100 a 120 mil somente no Brasil”, diz. Ainda segundo o representante dos fabricantes de automotores, o setor deve apresentar estabilidade somente no primeiro semestre de 2022. “A gente tem ouvido fornecedores, as montadoras, realizado estudos internos, e tudo aponta para essa estimativa, que é a melhor no momento, devido a perda de produção no Brasil por conta de semicondutores”, conta. Questionado pelo Correio Braziliense, Luiz Carlos Moraes afirmou que não há priorização na fabricação de carros acima de R$70 mil como tem sido divulgado. “A intercambialidade de um semicondutor não é possível, é uma peça muito complexa, não há como utilizar um semicondutor de um componente em outro. Está sendo produzido aquilo que está sendo ofertado pela indústria dos semicondutores. Além disso, existe uma tendência do consumidor em querer determinados modelos de veículos, especialmente SUV, comerciais leves e Pick Ups, e nós produzimos para atender o cliente. O consumidor decide o que quer, não somos nós que direcionamos”, disse. Seminovos “surfam” na crise Segundo Moraes, a indústria sofre ainda os resquícios do pior momento da pandemia, registrado em 2020. Ele explica que a desordem na cadeia global de produção foi a principal causadora da crise dos semicondutores e a elevação de preços ao consumidor. “Teve aumento nas commodities de aço, borracha, e outros itens, além da desvalorização da moeda, que afeta tanto montadoras que trazem muitos componentes importados, como os nossos fornecedores”, relata. Ele conta que, além disso, alguns estados aumentaram o ICMS sobre veículos, como São Paulo. “A carga tributária já é alta, e o estado, para resolver um problema de gestão pública, passou a conta para o consumidor”, criticou.

Segundo o presidente da Anfavea, o alto custo de insumos e logística que elevaram os preços dos veículos 0km, e a baixa oferta desses veículos nas concessionárias, têm alimentado o setor de seminovos. “Isso provocou dois comportamentos no consumidor. Alguns estão optando por aguardar 70 ou 90 dias, ou até mesmo postergar para 2022, e outros estão indo para o mercado de seminovos”. Com o aumento da procura por seminovos, aumenta-se também o preço dos usados, segundo Moraes.

Sem fechamento de fábricas Durante coletiva de imprensa realizada ontem pela Anfavea, o presidente Luiz Carlos Moraes descartou a possibilidade de fechamento, a exemplo da FORD, de mais fábricas automotivas no Brasil. Segundo ele, a antecipação de férias, suspensão de atividades e até mesmo uma possível abertura de plano de demissão voluntária, como fez a alemã Volkswagen em janeiro deste ano, fazem parte da gestão de crise, e as fábricas já estão “acostumadas” a lidar com esse cenário.

“A crise da falta de condutores está afetando a produção, e os sindicatos têm olhado para a questão de jornada de trabalho, suspensão temporária de contrato de trabalho, férias coletivas, entre outras. Eles têm muita experiência, pois já passaram por outras crises no passado, e na gestão dessa crise, que esperamos que seja momentânea, os sindicatos têm trabalhado muito próximos das montadoras para criar mecanismos e encontrar a melhor solução para gestão, sem fechar fábricas”, afirmou

Em janeiro de 2021, a americana FORD surpreendeu o mercado nacional ao anunciar o encerramento das operações das duas fábricas remanescentes no Brasil. Com isso, imediatamente a marca deixou de produzir seus três automóveis nacionais: Ka, Ka Sedan e EcoSport, para oferecer exclusivamente veículos importados no País. A produção de peças desses veículos vai até o fim de novembro deste ano.

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