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Confiança nos negócios

O declínio global da confiança nos negócios e instituições econômicas pode ser medido pelos protestos crescentes contra a globalização e pelas tendências protecionistas que tomam corpo desde a crise financeira de 2008.

Segundo o Barômetro de Confiança Edelman 2018, 48% das pessoas não acreditam que nos negócios “se faça a coisa certa”. Preocupada com este cenário, a Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) ativou neste ano a Iniciativa Confiança nos Negócios, que pretende reunir corporações, governos e a sociedade civil a fim de catalisar boas condutas corporativas, explorar incentivos de mercado e responder às expectativas da sociedade. Como seu primeiro fruto, a Organização dedicou o seu relatório anual sobre Empresas e Finanças ao tema Fortalecer a Confiança nos Negócios.

“A intensificação da interconectividade, as desigualdades crescentes, a desaceleração da produtividade, a degradação ambiental, a corrupção, as inovações tecnológicas disruptivas e a reformulação das dinâmicas regionais-globais estão transformando o papel dos negócios na sociedade”, constata a OCDE. A confiança, definida pela Organização como “a crença de uma pessoa de que outra pessoa ou instituição agirá de acordo com suas expectativas de comportamento positivo”, é o elemento fundamental para o bom funcionamento de qualquer instituição. No âmbito dos negócios e finanças, as expectativas de bom funcionamento implicam fundamentalmente: (i) previsibilidade em compromissos que conduzam a benefícios econômicos; (ii) trocas justas conduzidas com integridade; e (iii) alinhamento com padrões éticos e valores sociais. A partir desse tripé, a OCDE explora como a confiança pode ser fortalecida em cinco âmbitos de atividades econômicas.

Em primeiro lugar, há a confiança nos mercados financeiros, ameaçada pela emissão excessiva de dívidas soberanas, empresariais e bancárias. Além disso, a tecnologia de algoritmos tem possibilitado operações de alta frequência e criptoativos que expõem os mercados a uma grande volatilidade.

“Para fortalecer a confiança nos mercados, os políticos devem definir como objetivo a capacidade das autoridades financeiras de identificar e mitigar o risco na gestão da dívida pública e para garantir a liquidez do sistema financeiro”.

Em segundo lugar, há o problema da confiança nas instituições financeiras. Tendências como envelhecimento populacional, baixo rendimento dos fundos de aposentadoria, baixo crescimento e carreiras instáveis erodiram a crença de que os sistemas previdenciários são geridos com vistas aos interesses dos trabalhadores. A OCDE explora três maneiras de restabelecer a confiança nas instituições financeiras: promover uma gestão prudente dos fundos de pensão, incrementar a proteção financeira do consumidor e buscar soluções aos riscos ambientais e sociais.

Um terceiro ponto é a confiança de que as empresas cumprem as leis. Isso implica um aprimoramento nos sistemas de fiscalização interna (compliance), assim como esforços por parte dos Estados nacionais para harmonizar os sistemas de responsabilidade empresarial num mundo cada vez mais globalizado.

Em quarto lugar, é necessária uma atenção especial à vulnerabilidade característica das empresas estatais à corrupção. As diretrizes traçadas no programa anticorrupção da OCDE são inequívocas: aumentar a transparência e melhorar a regulamentação de investimentos que envolvam propriedade estatal.

Por fim, há o contexto novo dos mercados eletrônicos e o desafio de fortalecer a confiança nestes ambientes, o que exige abordagens multidisciplinares por parte das autoridades, que devem focar acima de tudo na proteção à escolha dos consumidores – isto é, à justa concorrência – e à privacidade de seus dados.

Essas perspectivas, exploradas em detalhe no estudo da OCDE, demandam a atenção não só de gestores públicos e privados, mas de todo cidadão. Afinal a confiança, ou seja, a credibilidade de uma sociedade digna de fé, é o fruto mais rico de sua virtude e a semente de sua prosperidade.

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