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As pedras no caminho do PIB

Os economistas têm aumentado as estimativas de crescimento deste ano, mas mantido ou cortado os números do ano que vem. Há várias pedras no caminho do PIB que explicam esse otimismo de curta duração dos grandes bancos e consultorias. A economia brasileira se mostrou mais resiliente aos efeitos da segunda onda da pandemia no primeiro trimestre, e por isso as projeções de 2021 estão indo para a casa de 4%. Mas há uma série de obstáculos no ano que vem: inflação elevada, juros em alta, e a polarização política do ano eleitoral que aumentará as incertezas sobre os rumos do país.

A LCA Consultoria revisou sua projeção de PIB de 2,8% para 4% este ano. Mas cortou de 2,8% para 2,5% o número do ano que vem. O banco BNP Paribas mudou de 2,5% para4,5% o crescimento de 2021, mas agora estima inflação de 6% em dezembro. Há sete semanas o mercado aumenta a projeção para o IPCA deste ano e para o ano que vem a taxa começa a se distanciar do centro da meta de 3,5%.

Com isso, têm subido as expectativas para a Selic. A "torre" dos juros que o ministro Paulo Guedes dizia ter derrubado já está se recompondo. Há casas estimando que a taxa chegará a 7% em meados de 2022, acima dos 6,5% do início do atual governo. O aumento dos juros terá dois efeitos sobre a atividade. Primeiro, vai encarecer as linhas de crédito e desacelerar as concessões de empréstimos. Segundo, vai estimular o aumento da poupança, afetando o consumo de curto prazo.

Os juros mais altos poderiam derrubar o dólar. Isso seria ruim para os exportadores, mas aumentaria a confiança das famílias e facilitaria os investimentos via importação. Mas aí entra em cena a incerteza política e a polarização eleitoral estimulada pelo presidente Jair Bolsonaro. Esse cenário pode manter o real pressionado e postergar os investimentos.

A agenda de reformas esperada para este ano é de projetos magros, com grandes concessões ao Congresso. A autonomia do Banco Central só passou com a adoção de um duplo mandato, a reforma administrativa já excluiu os atuais servidores e poupou os supersalários, a privatização da Eletrobras provocará aumento na conta de luz. A reforma tributária, que mal havia saído do lugar, recuou dez casas no tabuleiro, e tudo indica que certo mesmo é a aprovação de um Refis. A equipe econômica não quer se envolver nas discussões dos impostos estaduais, e é justamente daí que viriam os maiores ganhos de produtividade para a economia.

O ritmo de vacinação caiu em maio, e o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, mostrou em apresentação que ela tem ficado abaixo do esperado (veja o gráfico). Ainda há o risco de uma nova piora da pandemia, que tornaria o cenário mais incerto.

DUPLA DEPENDÊNCIA Não está só nas exportações a dependência do país em relação à China. Segundo levantamento inédito da CNI, os chineses ampliaram sua participação também nas importações feitas pelo Brasil. No ano passado, 21,9% dos produtos comprados por brasileiros foram produzidos na China. A CNI destaca o aumento de itens chineses com maior valor agregado, roubando mercado de europeus e americanos. "Num olhar geral de 15 setores principais de importação do Brasil, a China cresceu em 11, manteve participação em três e caiu em apenas um", diz a CNI.

USO DA MÁQUINA A queda do presidente da Previ, José Maurício Coelho, mostra que não para em pé a explicação do ministro Paulo Guedes de que o governo só tem feito trocas em altos cargos de estatais no término de seus mandatos. Se com Roberto Castello Branco, da Petrobras, foi assim, Coelho ainda tinha mais um ano à frente do maior fundo de pensão do país. Com a Caixa já alinhada ao projeto de reeleição de Bolsonaro, parece que agora chegou a vez de o governo enquadrar o Banco do Brasil e a Previ.

Veículo: O GLOBO - RJ Editoria: ECONOMIA Tipo notícia: Coluna Data: 27/05/2021 Autor: PANORAMA ECONÔMICO


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